segunda-feira, 23 de maio de 2011

Japão aposta na tecnologia e quer parceria com o Estados Unidos

O Japão aposta na tecnologia e na aliança militar com os Estados Unidos para enfrentar os desafios do futuro, como a ascensão da China e da Índia, a luta política interna, o envelhecimento e o declínio de sua população, afirmou na quarta-feira, 5 de dezembro, no Rio, o professor Yukio Okamoto, assessor do governo japonês.
Há pouco mais de dois, o país tem um novo chefe de governo. Yasuo Fukuda, de 71 anos, é o 30º primeiro-ministro do Japão no pós-guerra.
“As previsões são de que será um governo breve. Acho que estão errados”, previu o professor Okamoto, em palestra na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) sobre Os Desafios do Governo Fukuda e o Futuro da Tecnologia do Japão.
Com um apoio popular de 53%-58%, é o quarto primeiro-ministro mais popular desde 1945.
Quem ficou mais tempo no poder foi Eisaku Sato (1964-72). Sosuke Uno (1989) durou apenas apenas três meses. Na média, cada primeiro-ministro japonês governou de um a dois anos.
“Se Fukuda ganhar a próxima eleição, e ele tem um problema de idade [71], ficará mais tempo do que a média”, previu Okamoto. “É um cara descontraído, não tem idéias extremadas. Foi chefe da Casa Civil do governo Junichiro Koizumi (2001-2006), meu chefe. Conheço-o muito bem. É uma pessoa prática.”
Na Câmara dos Representantes, Yasuo Fukuda, filho do primeiro-ministro Takeo Fukuda (1976-78), tem uma maioria confortável. Com a coligação do Partido Liberal-Democrata com o budista Komeito (Partido do Governo Limpo), tem dois terços dos deputados. Mas, na Câmara dos Conselheiros (Senado), o PLD perdeu sua maioria pela primeira vez nas eleições de julho para o Partido Democrático do Japão.
Como o parlamento ficará dividido por mais seis anos, tempo dos mandatos senatoriais no Japão, será difícil tomar iniciativas ousadas. “O mundo muda rapidamente, e o Japão está atolado em conflitos internos”, lamenta Okamato.
DE VOLTA À GUERRA
“Será difícil mandar a Marinha do Japão de volta para o Oceano Índice colaborar nas operações antiterroristas de combate aos tráficos de armas e de drogas”, observa o assessor do governo Fukuda.
O Afeganistão produz 93% do ópio do mundo. A droga é trocada por armas no Nordeste da África. Uma frota internacional patrulha o Índico, e o Japão usava seus navios de reabastecimento para levar combustível e suprimentos para essa frota.
Para o Japão, foi uma iniciativa histórica, uma medida ousada de Koizumi. Mas o PDJ de Ichiro Osawa declarou que era inconstitucional. A autorização expirou e, sem uma nova lei, o Japão não pode voltar lá.
“Estive no Afeganistão. Nunca tinha visto um país tão pobre na Ásia. Sob o regime dos Talebã, as meninas não iam à aula. Agora, estão felizes de ir à escola. Mas a escola não tem mesas, nem cadeiras, nem quadro-negro”, constatou o professor japonês.
“Temos de ajudar esse país pobre, colaborando no combate à insurgência e ao terrorismo. O Japão tem a obrigação de contribuir.”
Há um ano, havia forças especiais japonesas no Iraque. Foi uma decisão política controvertida de Koizumi, que se propôs a tirar o Japão da crise tornando-o um país normal. O envio de forças terrestres ao Iraque foi a primeira operação de combate do Exército do Japão depois de 1945.
“A Ásia está mudando rapidamente. O Japão era a única potência; agora, temos a China e a Índia. É preciso passar de um pseudojogo de soma zero para um jogo em que todos ganhem”, propõe.
FANTASMAS DO PASSADO
Em 2005, houve as maiores manifestações antijaponesas na China. “Mais de 70% dos chineses não gostam do Japão, odeiam o Japão. A hostilidade é maior entre as novas gerações do que entre os velhos”, nota Okamoto.
“É uma questão de educação. Eles dizem que o Japão matou 20 milhões de chineses na Segunda Guerra Mundial. Não sei quantos milhões foram. São atrocidades do passado. Temos de olhar para o futuro”, disse o professor, em tom conciliatório.
“Para muitos japoneses, a guerra começou em 8 de dezembro de 1941”, dia do ataque à frota americana no Oceano Pacífico, em Pearl Harbor, no Havaí.
“O Japão foi severamente punido e penalizado”, recorda o assessor governamental. “Em Tóquio, 100 mil pessoas foram mortas em uma noite de bombardeio americano, um recorde mundial. Sessenta e seis cidades japonesas foram arrasadas. Mais de 800 mil civis e 2,4 milhões de soldados foram mortos. Essa é a percepção do povo japonês sobre a guerra.”
“Temos de entender a realidade. A guerra com a China começou em 1931, quando o Exército do Japão explodiu a Ferrovia da Mandchúria”, ocupou essa região e impôs o regime-fantoche de Mandchukuo. Em 1937, o incidente da Ponte Marco Pólo marca o início da guerra no resto da China, embora o Japão já tivesse invadido outras regiões a Oeste de Beijim.
“Para os chineses, eles sustentaram a guerra de 1931-41, e aí entraram os EUA. Nos anos anteriores, o Japão era o agressor; a China, a vítima”, resume o professor.
Na sua opinião, “nenhum incidente ou batalha isolada de que o Japão tenha participado poderia ter mudado a História de Segunda Guerra Mundial. Estava encrustrado no pensamento militar japonês que a única maneira de um pequeno país formado de ilhas sobreviver era se tornar um Estado continental.”
Resultado: “Não ensinamos a nossas crianças o que fizemos na China. A História do Japão não conta nada disso, aprofundando o fosso entre China e Japão, especialmente entre os jovens.
Como o próximo Congresso do Partido Comunista Chinês será em 2012, os atuais líderes ficam o cargo pelo menos até lá. Será a sexta geração de líderes da República Popular da China. É preciso se entender com eles. É um dos objetivos prioritários do governo Fukuda, que abandona definitivamente a hostilidade de Koizumi.
A China cresce pelo menos 8% ao ano há duas décadas. No ano passado, foram 11%; o Japão cresceu 1%. Em 10 anos, a economia da China terá dobrado. Neste ritmo, em 50 anos, terá crescido 68 vezes.
Desde 1956, o Japão cresceu cresceu 11 vezes.
PARCERIA COM O BRASIL
“Teremos de contar com o Brasil”, sustentou Yukio Okamoto. “Não temos recursos naturais. A China consome hoje 47% do cimento do mundo, 30,5% do minério de ferro e 9% do petróleo. O lado obscuro do desenvolvimento é a poluição. A poluição da China cobre o céu do Japão.”
A China gasta sete vezes mais energia do que o Japão para produzir a mesma coisa. Sem transferência de tecnologia, o céu japonês continuará turvado.
“O Japão é cercado de grandes países”, raciocina o professor, analisando a vulnerabilidade de seu país. “O Exército do Japão é menor que os da Tailândia e de Mianmar. A China tem 2,3 milhões de soldados”. Por isso, ele considera a aliança com os EUA essencial ao Japão.
“A China está formando uma Marinha de alto-mar”, assinala Okamoto. “Tem a questão de Taiwan. A Coréia do Norte tem mísseis e armas nucleares. A única maneira de sobreviver é se aliar aos EUA.”
“Antes das reformas de Koizumi, dizia-se que o Japão viraria uma Suíça: rico, próspero e irrelevante.”
Aquele primeiro-ministro conseguiu superar uma década de estagnação: “Há um ano e meio atrás, o balanço dos empréstimos bancários tornou-se positivo. As grandes companhias estão lucrando muito mais. Há uma recuperação nas grandes cidades e um desequilíbrio em relação às pequenas cidades.”
O problema mais sério para o futuro é o envelhecimento e o declínio da população.
Das 500 maiores empresas da lista Global Fortune, o Japão é segundo, com 67, atrás dos EUA com 162, da França com 38 e da Alemanha, com 37.
Para manter sua importância, o Japão aposta em novas tecnologias:
• sistemas de tráfego com sensores advertindo os motoristas para objetos que não estejam vendo, distribuídos em todo o sistema de tráfego;
• robôs humanóides não só para a indústria;
• robôs para dar informações;
• novas tecnologias para combater problemas ambientais, com um grandes investimentos na pesquisa de carros elétricos.
A força da economia do Japão vem também de pequenas e médias empresas, diz Okamoto: “A Nippura faz todos os painéis laminados de acrílico do mundo. Tem 100% do mercado. Isso você não vê na China e na Coréia”.
Dois dias no Brasil foram suficientes para o professor sentir o vigor e o dinamismo da economia brasileira, e “a natureza complementar da nossas economias”.
Okamoto entende que chegou a hora de retomar a colaboração dos anos 60 e 70: “Antes de vir, encontrei muitos líderes empresariais. Eles têm grandes aspirações em relação ao Brasil. Vêem o Brasil como diferente dos outros BRICs”, sigla criada pelo banco de investimentos Goldman Sachs para falar das grandes potências emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China.
“O Brasil tem estabilidade política, recursos naturais e mais confiabilidade nas pessoas para fazer negócios. É um verdadeiro parceiro”, proclamou o assessor japonês. Queremos cooperar em agricultura, aperfeiçoar a cultura da cana-de-açúcar. O Brasil é um grande produtor de soja, que se transforma numa infinidade de produtos. Muitas tecnologias são transferíveis. Podemos começar por aí.”
NOTAS
• O presidente da Rússia, Vladimir Putin, indicou o vice-primeiro-ministro Dimitri Medvedev, liberal e pró-Ocidente, como candidato oficial do Kremlin na eleição presidencial de março do próximo ano.
• Cuba assinou surpreendentemente documentos das Nações Unidas prometendo liberdade de expressão e o direito de viajar ao exterior.
• Ao receber o Prêmio Nobel da Paz 2007 junto com o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, por seu ativismo contra o aquecimento global, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore Jr. criticou seu país e a China. Esses dois países, os maiores poluidores do mundo, resistem a adoção de metas rígidas de redução de emissões no acordo que começa a ser negociado na 13ª Conferência sobre Mudança do Clima, em Bali, na Indonésia, para substituir o Protocolo de Quioto a partir de 2013.
• O Federal Reserve Board, banco central dos EUA, deve cortar a taxa básica de juros da maior economia do mundo nesta terça-feira, 11 de dezembro, em 0,25 ponto percentual, para 4,25% ao ano.
• Irã e China fecharam um contrato de petróleo no valor de US$ 2 bilhões.
• O governo do Iraque fez um apelo aos EUA para que dialoguem com a Síria e o Irã, argumentando que esses países estão colaborando para estabilizar o Iraque.
• Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Venezuela e Uruguai criaram no domingo, 9 de dezembro de 2007, em Buenos Aires, o Banco do Sul, uma agência de desenvolvimento regional para financiar projetos sem passar por instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
                                Fonte: baguete.com.br

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